sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

You say you want a revolution...


Se você ainda não viu Across the universe e, como eu, não é um exímio conhecedor da discografia dos rapazes de Liverpool, vá ao cinema ao lado de um beatlemaníaco. A experiência é divertida, não só porque a sua companhia vai encontrar todas as citações aos títulos ou trechos de músicas que aparecem nos diálogos, mas também porque vai ajudar a julgar com conhecimento de causa os números musicais inspirados nas canções dos Fab Four e opinar sobre outras referências que a diretora norte-americana Julie Taymor deixou passar nos nada cansativos 130 minutos do filme.

Agora, se você não gosta ou conhece muito pouco da trajetória dos Beatles, é melhor passar longe, mesmo que seja um apreciador de musicais. A história não tem nada de especial: garoto inglês (Jude) vai procurar o pai nos Estados Unidos, conhece garota americana (Lucy) e se apaixona. Os dois iniciam um romance em meio ao clima de revolução política e cultural da Nova York dos anos 60. Os sucessos da banda ajudam a contar a história, ainda que boa parte das versões – na sua maioria interpretadas pelos atores – não chegue aos pés dos originais. Isso é perdoável? Sim, porque o propósito de Across the universe não parece ser o de melhorar clássicos como Helter skelter ou All you need is love, mas sim de transferir para o cinema o melhor que a música pop tem a oferecer: a capacidade de traduzir em letra e música sentimentos que parecem únicos – aquela sensação de “oh, isso foi escrito pra mim” – mas que na verdade todo mundo já experimentou.

É por isso que a graça do filme está em reconhecer e cantar junto com a trilha sonora. E prepare-se: a platéia faz isso mesmo. Mas Across the universe é mais do que um apelo ao repertório afetivo do público. A diretora Julie Taymor (de Frida) não abre mão da ousadia, mesmo sob o risco de aborrecer fãs xiitas. Os melhores momentos do filme acontecem quando canções como Strawberry fields forever e I want you ganham um novo sentido a partir de representações visuais estilo videoclipe ou coreografias no limite da naturalidade de Daniel Ezralow, refletindo a angústia dos personagens frente a Guerra do Vietnã. Apesar de menos surpreendentes, os números musicais românticos também rendem bons momentos, como em It won’t be long e While my guitar gently weeps.

O que enfraquece o longa-metragem é o desempenho mediano do casal de protagonistas – Evan Rachel Wood, de Aos treze, e Jim Sturgess, ator relativamente conhecido da TV britânica. Embora afinados, os dois são ofuscados pela energia de coadjuvantes como Joe Andersen (Max) e T.V Carpio (Prudence). Algumas participações especiais também merecem destaque pelo toque de personalidade que dão às músicas originais. Joe Cocker, como um cafetão, torna mais bluesy Come together. Bono, na pele do Dr. Roberts, faz graça consigo mesmo em I’m the walrus. Mas o melhor é um cara chamado Martin Luther McCoy (!), no papel de um guitarrista que, como diriam Lennon e McCartney, "was a man who thought he was a loner, but he knew it wouldn’t last"... É por referências como essa que saí do cinema e – alertada pelo fã do primeiro parágrafo – fui para casa para mais uma dose de Beatles, na TV, com Help! Constatação: apesar do roteiro bobinho, nada bate o original de Liverpool.

Um comentário:

Gabi Voskelis disse...

ia comentar, mas fica tão estranho depois da gente ter conversado ontem sobre isso... não consegui.

fica registrada minha sincera intenção de fazer algum comentário interessante e minha incapacidade nesse momento em que estou "empapuçada".

quero minhas manhãs de volta!