sábado, 29 de dezembro de 2007

Scorsese a la Hitchcock ou Hitchcock a la Scorsese?

O ano não poderia acabar por aqui sem uma diversãozinha cinematográfica. Para ficar no tema das referências, vejam quantas vocês encontram nesse vídeo aqui. Martin Scorsese, em uma versão Woody Allen dele mesmo, dirige um supostamente nunca filmado roteiro de Hitchcock. O curta foi feito para a espumante catalã Freixenet. E o final certamente merece o brinde de ano novo das garotas cinematográficas. Para 2008, fica o desejo de muitos diálogos inteligentes e cenas de ação impressionantes pra todo mundo que passou por aqui ao longo deste ano e que, espero, voltará a nos ler no que está prestes a começar.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Ele só queria voar



Em O Sobrevivente, Werner Herzog, como um bom “macaco velho” do cinema, não decepciona e faz um filme que brilha. A história real de Dieter Dengler alemão/norte-americano que queria voar e cai nas terras inimigas após um vôo de ataque. É capturado pelos vietnamitas, torturado e colocado numa reclusão com outros já resignados com a prisão. Mas ele não se contenta e resolve fugir. Uma fuga minuciosa e cheia de contratempos. Apenas ele e um colega seguem. E apenas ele é resgatado.

Pouco original a questão da sobrevivência na selva, comer minhocas, o cenário da Guerra do Vietnã, tortura ... mas o filme é ótimo. A entrega dos atores é incrível. Especialmente Christian Bale e Steve Zahn. É emocionante. Tu sentes a dor, a angústia. Bale nem usa dublês. É puxado por uma vaca, fica quase submerso em um poço apertado.

O filme é posterior ao documentário do próprio Herzog, “O Pequeno Dieter Precisa Voar”, baseado em declarações de amigos de Dengler, há 10 anos.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Arquivo X do cinema?


Cada vez que assisto qualquer coisa dirigida pelo Krzysztof Kieslowski fico mais impressionada com a qualidade do que vejo. No domingo, revi A Liberdade é Azul. E fiz uma descoberta, devidamente comprovada ontem, quando vi A Igualdade é Branca.

Só pra contextualizar, os dois filmes fazem parte da Trilogia das Cores. Não precisa fazer um esforço muito grande pra adivinhar que o nome do terceiro filme é A Fraternidade é Vermelha. (Aliás, odeio os títulos em português. São inventados. Os originais são Rouge, Blanc e Bleu. Pronto, desabafei.)

Voltando à minha "descoberta": há uma cena em cada um dos filmes na qual os personagens se misturam. Não, eles não estabelecem nenhum contato, mas estão lá. Durante a audiência do divórcio em Blanc, a personagem de Juliette Binoche em Bleu está procurando uma pessoa no tribunal. Ela abre a porta da sala e é expulsa por um policial.

É simples e rápido demais, mas gosto desse tipo de brincadeira cinematográfica. Piro toda vez que vejo De Volta para o Futuro 2 e 3 por isso. Filmados simultaneamente, há cenas em que dois Marty McFly quase se encontram, e cada uma mostra o ponto de vista diferente, já que cada um deles faz parte de um filme. Robert Zemeckis = gênio. Sem contar Uma Cilada para Roger Rabbit, mas aí é assunto pra outro post.

O fato é que a Trilogia das Cores cresceu demais no meu conceito. Só não encontrei nenhuma ligação com o Rouge, apesar de desconfiar que, sim, ela existe. Se alguém souber, por favor, me avise.


***Pré-texto***


eu: e tem coisas valiosas?
vc vai ver: agora vão roubar vários museus...
é sempre assim: crime tem modinha tb
vc já viu todos os filmes da trilogia das cores?
Leticia: sim
o mais valioso é o di cavalcanti
sim
por que?
eu: e vc já reparou que o branco e o azul tem uma cena em comum?
Leticia: baaaaahhhh
não me dei conta
mas acho que vi com diferença de um ano cada filme
ou mais
eu: pois é... já vi várias vezes e só me dei conta essa semana...
fou escrever um post
Leticia: escreva
garotas cinematográficas desvendando os segredos da sétima arte
eu: hahahahahahaha
Leticia: arquivo x do cinema, praticamente
eu: pior que procurei alguma coisa do vermelho, mas não achei
Leticia: ptz
se eu tivesse DVD
ou os DVDs
te ajudaria na busca
adoro essas coisas
hahahaha
eu: eu até tenho, mas não achei mesmo
vou pedir ajuda dos leitores...
de repente alguém resolve comentar
hahahahaha
Leticia: hahahahahaah
boa idéia

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Aprendendo...




Workshop de Direção de Fotografia para Cinema
Com Alziro Barbosa
De 10 a 15 de dezembro - São Paulo - SP




Eu fiz :)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Brilho eterno de uma mente com lembranças



Algumas vezes, queremos esquecer o passado, deixar tudo pra trás e começar do zero. Na maioria das vezes, não conseguimos. Em outras situações, queremos agarrar as lembranças com as duas mãos para recordar cada detalhe, cada palavra, cada suspiro. Mas elas escorregam e acabam por desaparecer.


O Passado, último filme do argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, retrata esse paradoxo levado ao extremo por duas situações: o tradutor Rímini (Gael García Bernal, lindo sempre) é atormentado pela ex-mulher psicopata, com quem viveu por 12 anos. Ao mesmo tempo em que luta para se desvencilhar desse "passado", ele é acometido pelo mal de Alzheimer e começa a esquecer coisas importantes como o francês e as feições de sua mãe.


Rímini procura refazer a vida após o divórcio, mas Sofía (Analía Couceyro) se transforma em uma espécie de onipresença atormentadora. Entre uma mulher e outra, lá está ela, sempre louca. Como bem escreveu Alexander Pope, "Feliz é a inocente vestal; esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças"...


O filme é uma adaptação do livro homônimo do argentino Alan Pauls. Não li, nem li nada desse autor. Mas o longa traz um quê de Julio Cortazar. Situações comuns, banais, vão se tornando absurdas progressivamente até que se tornem insustentáveis. O maior exemplo disso é a seqüência em que Sofía vai conhecer o filho de Rímini com sua terceira mulher. Uma conversa no parque se transforma em uma sucessão de acontecimentos asfixiantes. Mas há outros, como a cena que conta com a participação de Paulo Autran (última no cinema antes de morrer) ou a inauguração da "ONG" de Sofía.


García Bernal acerta ao apostar no silêncio para transmitir a angústia e as confusões do personagem. Em Viagem a Darjeeling, de Wes Anderson, a personagem de Jessica Houston diz em determinado momento do filme que "poderíamos nos expressar melhor se pudéssemos dizer tudo sem palavras". García Bernal faz isso como ninguém.


Um recurso muito bem utilizado por Babenco é o sexo. Cada mulher que atravessa o caminho de Rímini é presenteada pelo diretor com uma cena de sexo. E essa cena, que pode durar segundos, diz mais sobre o relacionamento do que qualquer outra do filme.


O único porém é a produção durar mais do que o necessário. Em dado momento, parece que já conhecemos o ciclo da vida de Rímini. Mas o final... Acaba no momento perfeito. Redondinho. Esse é aquele tipo de filme que quanto mais pensamos, melhor se torna. Assim como aquelas lembranças que não desejamos esquecer.


PS: lamentável a cena em São Paulo. Buenos Aires sempre linda X camelôs em Sampa. Injusto.