quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Brilho eterno de uma mente com lembranças



Algumas vezes, queremos esquecer o passado, deixar tudo pra trás e começar do zero. Na maioria das vezes, não conseguimos. Em outras situações, queremos agarrar as lembranças com as duas mãos para recordar cada detalhe, cada palavra, cada suspiro. Mas elas escorregam e acabam por desaparecer.


O Passado, último filme do argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, retrata esse paradoxo levado ao extremo por duas situações: o tradutor Rímini (Gael García Bernal, lindo sempre) é atormentado pela ex-mulher psicopata, com quem viveu por 12 anos. Ao mesmo tempo em que luta para se desvencilhar desse "passado", ele é acometido pelo mal de Alzheimer e começa a esquecer coisas importantes como o francês e as feições de sua mãe.


Rímini procura refazer a vida após o divórcio, mas Sofía (Analía Couceyro) se transforma em uma espécie de onipresença atormentadora. Entre uma mulher e outra, lá está ela, sempre louca. Como bem escreveu Alexander Pope, "Feliz é a inocente vestal; esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças"...


O filme é uma adaptação do livro homônimo do argentino Alan Pauls. Não li, nem li nada desse autor. Mas o longa traz um quê de Julio Cortazar. Situações comuns, banais, vão se tornando absurdas progressivamente até que se tornem insustentáveis. O maior exemplo disso é a seqüência em que Sofía vai conhecer o filho de Rímini com sua terceira mulher. Uma conversa no parque se transforma em uma sucessão de acontecimentos asfixiantes. Mas há outros, como a cena que conta com a participação de Paulo Autran (última no cinema antes de morrer) ou a inauguração da "ONG" de Sofía.


García Bernal acerta ao apostar no silêncio para transmitir a angústia e as confusões do personagem. Em Viagem a Darjeeling, de Wes Anderson, a personagem de Jessica Houston diz em determinado momento do filme que "poderíamos nos expressar melhor se pudéssemos dizer tudo sem palavras". García Bernal faz isso como ninguém.


Um recurso muito bem utilizado por Babenco é o sexo. Cada mulher que atravessa o caminho de Rímini é presenteada pelo diretor com uma cena de sexo. E essa cena, que pode durar segundos, diz mais sobre o relacionamento do que qualquer outra do filme.


O único porém é a produção durar mais do que o necessário. Em dado momento, parece que já conhecemos o ciclo da vida de Rímini. Mas o final... Acaba no momento perfeito. Redondinho. Esse é aquele tipo de filme que quanto mais pensamos, melhor se torna. Assim como aquelas lembranças que não desejamos esquecer.


PS: lamentável a cena em São Paulo. Buenos Aires sempre linda X camelôs em Sampa. Injusto.

4 comentários:

Camila Mazzini disse...

bah. me deu mais vontade de ver.
já saiu de cartaz né?

Gabi Voskelis disse...

nem sei... vi em sampa!

Emily disse...

quero ver!!!!

me leva pra sampa?

Unknown disse...

afe.
ninguém atualiza isso!
leticiaaaaaaaaaaaaaaaa